quarta-feira, 23 de junho de 2010

Homenagem a Lauro Hagemann

A Câmara Municipal é muito criticada pelas homenagens que realiza. A população considera perda de tempo e de pouca serventia para as necessidades da cidade.Este senso comum é equivocado pois seu papel central é o de construir memórias sociais imprescindíveis à vida na cidade. Homenageamos porque queremos fixar na memória social a constribuição de um determinado ator social, personagem ou instituição. Homenageamos porque a cidade, para se desenvolver, precisa não apenas de grandes obras, mas de referências, símbolos e exemplos nos quais se possa se agarrar, modelos de ética e valor para as novas gerações. Conceder títulos é uma forma de ritualizar nossa relação com a cidade e com os valores que desejamos para o estar-junto na metrópole.

É o caso do titulo de Cidadão Emérito que a Câmara Municipal concedeu ao ex-vereador Lauro Hagemann. Radialista, Lauro Hageman foi por anos a voz do Reporter Esso. Comunista, assumiu os riscos que tal filosofia representou durante o arbítrio. Conheci-o como vereador, e já lá se vão vinte e cinco anos, logo que ingressei na Câmara Municipal. Político integro e ético, propunha temas sociais à pauta do legislativo, acompanhava as lutas de moradores de rua e sem terra numa época em que emergiam os movimentos urbanos em Porto Alegre.

A homenagem foi merecida e repleta de significados. Estavam presentes autoridades como o Prefeito José Fortunati, mas também uma geração que acompanhou a trajetória de Hagemann. Ele, com sua voz penetrante, soube retribuir os elogios. O mais notável foi o diálogo entre Hagemann e o Vereador João Dib, outro patriarca do Legislativo, repleto de simbolismo. A cena foi emblemática por quem presenciou por registrar o diálogo de uma geração política que começou a fazer carreira em primeiro lugar, com base na boa política de fundamento na técnica, no conhecimento e na informação. Hagemann, que havia trazido leituras do marxismo para a prática política, dialogava com Dib, que havia aprofundado na política a experiência de administrador - ele é engenheiro. Ambos representam os primórdios do nascimento de uma geração mais intelectualizada e menos populista no parlamento, uma geração que começa a falar com conhecimento de causa e não com discursos exclusivamente preparados por assessores; que distancia-se da demagogia para começar a se especializar em áreas da cidade, que, numa palavra, não vive fazendo política sobre tudo o que vem pela frente mas transforma-se num especialista em temas da cidade.

Hagemann é este exemplo de cidadão ético e homem público que desejamos ver imitado pelas novas gerações. É por isto que a homenagem é mais do que merecida.Elas não são perda de tempo para o legislativo, ao contrário, cumprem a importante função de constituir um espaço de preservação da memória e reforço da identidade
da cidade. E nisto, ainda tem muito a contribuir.

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